Rotinas desgastantes, jornadas repletas de mesmices, compromissos chatos muitas vezes, porém importantes, estudos, leituras, trabalho, downloads, shoppings, fast- foods, comidas congeladas, PIB crescendo, TV plasma, palm- tops, exploração do petróleo, cirurgias à laser,funcionalidades das células-tronco,terrorismo, bronzeamentos artificiais, youtube,comidas de microondas, miojo em três minutos, problemas das mais variadas ordens nas famílias, nas finanças, nos relacionamentos , na saúde,nas nações; artigos acadêmicos colacionados da internet, preguiça para pensar, resistência ao ato de ler, celulares carregando a bateria, gravidez-precoce aumentando, dificuldades para a verdadeira arte se manifestar, cursos on-line, comidas instantâneas, sms e torpedos para todos os lados, relacionamentos descartáveis, guerra civil, crise na política, falta de esclarecimento, falta de oportunidades justas e democráticas aos atletas, cantores, atores, artistas em geral; aberrações legitimadas socialmente e juridicamente, horários sempre apertados e corridos, ansiedades de todo tipo...
Eis aqui alguns elementos, fatos,descobrimentos, sentimentos e dramas que compõem a atualidade, o mundo moderno, a era contemporânea...
Com meus 25 anos completos confesso sentir falta do ar puro do campo, a possibilidade de sentir a visita dos ventos da tarde, a chance de poder acompanhar o entardecer e ver o sol se despedindo de nós; reparar o céu à noite estrelado, contemplar a lua, ter a sensação de ver o tempo sendo dominado e não nos dominando, sentir que sou livre e não escravo das terríveis rotinas cotidianas que, muitas vezes, são impostas a nós por alguém ou por um sistema econômico e social vigente, contrário à nossa vontade.
É impressionante como a qualidade de vida vem se perdendo, como as pessoas andam com pressa, querem resolver seus problemas imediatamente, se aborrecem com facilidade, se estressam e se descontrolam emocionalmente com simples bagatelas do dia a dia.
Já se disse em Filosofia que "o não saber angustia", mas existem muitas outras coisas que angustiam também, sobretudo no contexto dos nossos dias. É fácil notar que até o diálogo entre nós está complicado, quando conversamos ou precisamos falar com outra pessoa no trabalho, em casa, na universidade, na igreja, em qualquer lugar. Percebo que em muitos momentos o ouvinte tem pressa, te dá alguns segundos... e se você de repente não consegue atender a essa expectativa de tempo dada , corre o risco de você ser cortado,de não ter mais a mesma atenção do receptor ou até ser julgado no fim da conversa de lesado, lento , lerdo, coisas do tipo...
Nos irritamos com um PC lento, nos irritamos com a ausência de um PC, com um elevador que demora a chegar, com um engarrafamento aleatório, com um concurso público que demora a convocar os aprovados, com um calor intenso ou com um frio perturbador, com as esperas exigidas nas agências bancárias, e aqui um parêntese ( até as casas lotéricas a pouco tempo eram recorridas estrategicamente para driblarmos as gigantescas filas dos bancos, o que agora já era... por causa da MEGA- SENA acumulada e que atrai multidões!)
Os efeitos de um mundo globalizado trouxeram muitas facilidades e descobertas tecnológicas, mas também trouxeram ritmos acelerados, vidas corridas, agitações coletivas, inquietações generalizadas, fortes desestímulos à reflexão, agendas lotadas e entulhadas. Hoje uma criança, um adolescente ou um jovem pode e já se estressa facilmente devido às responsabilidades que a vida moderna derrama e coloca sobre seus ombros...
A alimentação das crianças regrediu, a educação está em crise e me refiro aqui ao Ensino Público e ao Ensino Privado; antes, o saber tinha uma significação mais profunda ,o conhecimento era adquirido com mais qualidade e espontaneidade,o aprendizado contava com mais tempo, com mais horas e com mestres e professores igualmente também mais disponíveis,com mais horas-aulas e ,consequentemente, mais próximos dos alunos. Hoje, para a maioria dos jovens e crianças de qualquer classe social, ir à escola ou à universidade é uma obrigação árdua, chata , cruel, mas que tem que ser encarada e suportada. O estudante hoje não tem, nem sente ter um ideal, mas tem ou sente ter um fardo.
O meio rural, o campo, o contato direto com a natureza, dormir na rede, tomar sacolé, brincar de bonecas, jogar bolinhas de gude, soltar pipas, pular amarelinha, comer nas horas certas, se divertir no zoológico, apertar a campanhia do vizinho e sair correndo, jogar vôlei ou peteca na rua, escutar as histórias contadas pelos pais ou avós na hora de dormir foram trocados por msns, jogos eletrônicos, vídeo games, shoppings, lan houses, jogos de tiroteio, rotinas estressantes, obrigações, muitas vezes, precoces e nocivas para um saudável desenvolvimento de um ser humano .
Não é a toa que a era contemporânea traz, cada vez mais, problemas contemporâneos sérios como: obesidade, depressão, bulimia, anorexia, desestruturas emocionais nas famílias e nos relacionamentos que acabam conduzindo uma geração a caminhos escuros, tenebrosos e com poucas chances de reversão, sendo eles: (suicídio,criminalidade,prostituição,vícios em tóxicos ou em bebidas alcoólicas e tantos outros).
Outro ponto é a pressão que o mundo moderno coloca nas mulheres por meio da mídia, da moda e do sistema econômico atual de que não apenas as inseriu no mercado de trabalho como exige delas o cultivo de uma vaidade excessiva, desequilibrada e doentia. Colocar silicones, fazer campanhas de fome, artificializar ao máximo seus cabelos, se alimentar com culpa, violentar com veemência sua própria consciência ao comer doces, tortas e quitutes, realizar desenfreadamente lipoaspiração, se deprimir intensamente sempre quando descobrir o aparecimento de uma pequena celulite ou de uma companheira estria ou até mesmo quando ganhar alguns quilos na balança são atitudes que devem adotar se quiserem ser elegantes, se quiserem estar em consonância com as tendências do universo da moda, se quiserem ser feliz, se quiserem que apareça o homem dos sonhos ou se quiserem manter um parceiro num relacionamento já falido e destruído.
Esse dialeto cultural não passa de uma falácia, de um verdadeiro culto desequilibrado à beleza, de uma tendência fútil, artificial e efêmera. Essa onda não quer outra coisa senão incentivar o enaltecimento das aparências e desvalorizar gradativamente as essências de uma mulher. Não sou contra a vaidade feminina até porque se exercida dentro da normalidade vale a pena, melhora a auto-estima, causa felicidade espontânea e também porque a conservação da beleza feminina encontra respaldo nos enunciados bíblicos.
Acredito que nós “romanceamos a nossa própria história” e por isso devemos estar atentos e sensíveis a reflexão de como vêm sendo vivido nossos dias em um mundo que tem pressa, que preza pela rapidez, pela velocidade no tempo.
Se somos pais, filhos, amigos ou parentes, se somos pertencentes a uma classe social A ou B ou C, se somos homem ou mulher, não importa, o importante é respondermos primeiramente para nós mesmos se estamos caminhando na direção certa, se em nossas plantações estão sendo plantadas sementes que frutificarão e de que maneira estamos executando essa importante atividade da vida, se estamos dispostos a corrigir nossos erros, se estamos empenhados em perseverar nos acertos e preservá-los sempre; se estamos vivendo com qualidade de vida ou se ao menos estamos buscando viver dessa forma nos Tempos atuais, Nos tempos modernos.
Fabio Henrique Balod Moniz Sodré (2010)
quarta-feira, 15 de setembro de 2010
segunda-feira, 24 de maio de 2010
Reflexão... Por quê?
É 2010... Copa do mundo, eleições e a realidade bem a nossa frente.
Por que as pessoas, ou melhor, por que os Brasileiros, tem que ser assim? Supervalorizar o futebol dessa forma, aceitar uma proposta política "democrática" apenas para os poderosos? Não lutam mais como antigamente pelos seus direitos, sim, sabemos que existe uma minoria, é... ainda existem alguns que tentam alguma coisa, mas cadê a identidade do povo Brasileiro? Será FUTEBOL? CARNAVAL? TELENOVELAS? SOBREVIVER E NÃO VIVER?
Quando ligamos a tv, infelimente podemos ver a imagem que a mídia televisiva passa do que é o Brasil... sim tem algumas coisas que mostram: petróleo, praias, mulheres, empresários... Agora não vemos uma escola Brasileira ganhando premiação por ser a melhor do mundo, ah! nem investimento para isso tem... Não vemos um hospital público aparecendo nos jornais nacionais e internacionais como o melhor pronto atendimento do Brasil, cidadãos sendo bem atendidos, com bons médicos, materiais de primeira qualidade, é... parece que esse não é o foco. Por quê?
O jovem se forma, se não tem experiência hoje, ele precisa trabalhar e tem que aceitar aquilo que aparece, mesmo não sendo na sua área... Por quê? Por que essa passividade do Brasileiro de "qualquer coisa, está boa" nossa! Quanta acomodação.
Por que você tem que pensar no seu e somente, a sua sociedade, o seu habitat, seu ambiente de trabalho, não é sua responsabilidade? Você não está inserido... deve ser isso. Claro só pode ser. A palavra união, só existe hoje na fábrica açucareira, ou em segmentos minúsculos de alguns grupos sociais. Por quê?
Assim fica difícil mesmo... Porque a verdade é que somos todos egoístas por natureza, e o todo não importa, apenas o individual. Dessa forma quem sai ganhando é o poder e povo só sobrevivendo...
Podemos melhorar isso?
Luana Abali.
Por que as pessoas, ou melhor, por que os Brasileiros, tem que ser assim? Supervalorizar o futebol dessa forma, aceitar uma proposta política "democrática" apenas para os poderosos? Não lutam mais como antigamente pelos seus direitos, sim, sabemos que existe uma minoria, é... ainda existem alguns que tentam alguma coisa, mas cadê a identidade do povo Brasileiro? Será FUTEBOL? CARNAVAL? TELENOVELAS? SOBREVIVER E NÃO VIVER?
Quando ligamos a tv, infelimente podemos ver a imagem que a mídia televisiva passa do que é o Brasil... sim tem algumas coisas que mostram: petróleo, praias, mulheres, empresários... Agora não vemos uma escola Brasileira ganhando premiação por ser a melhor do mundo, ah! nem investimento para isso tem... Não vemos um hospital público aparecendo nos jornais nacionais e internacionais como o melhor pronto atendimento do Brasil, cidadãos sendo bem atendidos, com bons médicos, materiais de primeira qualidade, é... parece que esse não é o foco. Por quê?
O jovem se forma, se não tem experiência hoje, ele precisa trabalhar e tem que aceitar aquilo que aparece, mesmo não sendo na sua área... Por quê? Por que essa passividade do Brasileiro de "qualquer coisa, está boa" nossa! Quanta acomodação.
Por que você tem que pensar no seu e somente, a sua sociedade, o seu habitat, seu ambiente de trabalho, não é sua responsabilidade? Você não está inserido... deve ser isso. Claro só pode ser. A palavra união, só existe hoje na fábrica açucareira, ou em segmentos minúsculos de alguns grupos sociais. Por quê?
Assim fica difícil mesmo... Porque a verdade é que somos todos egoístas por natureza, e o todo não importa, apenas o individual. Dessa forma quem sai ganhando é o poder e povo só sobrevivendo...
Podemos melhorar isso?
Luana Abali.
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010
ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA NA EJA: ALGUMAS REFLEXÕES
ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA NA EJA: ALGUMAS
REFLEXÕES
Artur Gomes de Morais
Dentro da instituição escolar, a colocação em prática dos princípios idealizados e prescritos por outras esferas é, porém, atribuída prioritariamente ao professor. Cabe então refletir sobre o que isto significa, hoje.
Cremos que precisamos estar bastante conscientes de que as mudanças no modo como passamos a conceber a linguagem e o trabalho pedagógico na área de língua impõem um alto nível de exigência para o profissional professor. De um rol de conteúdos isolados, aprendidos pela repetição e memorização o que passamos a exigir do professor é que ensine “práticas variadas de produção e compreensão de gêneros orais e escritos”, tal como se dão no espaço extra-escolar. E que aquele mestre promova situações de “análise e reflexão sobre a língua” no lugar das antigas lições de gramática. Ora, é evidente que a nova prescrição implica uma profunda complexificação da tarefa de ensino.
Isto se torna evidente pelas competências de usuário da linguagem que se passa a exigir do professor e que ele não pôde, muitas vezes, desenvolver. Diferentes pesquisas realizadas, aqui no Brasil, atestam que a maioria dos docentes do ensino fundamental consomem, em seu cotidiano, poucos livros e outros produtos culturais –cinema, teatro, etc. Ao mesmo tempo, em suas experiências familiares e escolares prévias, estes profissionais não tiveram oportunidade de apropriar-se do letramento sofisticado que se supõe implícito na expectativa de que agencie, na sala de aula, práticas variadas de leitura, produção textual e análise lingüística.
Das dificuldades de realizar-se um ensino eficaz dos aspectos textuais da língua e de
se inovar o ensino do sistema de escrita alfabética. A condição de leitor escolar/interditado, apontada na seção anterior, poderia explicar, ao menos em parte, o fato de que, mesmo atualmente - quando há toda uma literatura que fundamenta a prática de ensino da língua como um processo de interlocução-,
ainda pode ser observado em muitas escolas um ensino de língua fragmentado. Dessa
maneira, os professores teriam dificuldades em desempenhar de outra forma o papel de
formadores de alunos leitores e produtores de textos, que deveriam ver a leitura como um meio de aquisição de práticas letradas.
Quanto à formação continuada... a escassez com que se dá, permite-nos questionar se pode continuar sendo assim chamada (“continuada” ou “contínua”) e não alimentar maiores ilusões quanto a seus efeitos. Além de sabermos que raramente atinge uma dimensão de ampliação do universo cultural do professor, parece que pouco tem investido numa reflexão sobre procedimentos adequados de escolarização da linguagem pela escola. Analisando situações de formação continuada na área de língua, vividas por professores de 1ª a 4ª séries de uma rede pública de ensino de Pernambuco, observaram que os momentos de formação (bastante esporádicos!!!) não só não viabilizavam a discussão e reflexão sobre as práticas de ensino da língua na sala de aula como reforçavam concepções e encaminhamentos didáticos bastante tradicionais (que identificavam língua com gramática normativa, usavam textos como pretexto para ensino de classes gramaticais, etc.). Hipotetizamos que a situação não seria necessariamente diferente na EJA: Moura & Morais (2001), entrevistando 10 professoras de EJA de Pernambuco, observaram que elas se queixavam da ausência de oportunidades de formação continuada e do fato de, nos poucos “encontros de capacitação” vivenciados, não se investir na discussão, por exemplo, da forma como sistematizam em suas salas o ensino do sistema de escrita alfabética.
A transformação das práticas de ensino da língua portuguesa na eja merecem, a nosso ver, uma atenção maior por parte dos que fazem e discutem as políticas de formação/ atuação dos profissionais envolvidos nesse segmento de escolarização. Parecenos inegável a complexificação daquela tarefa docente, em função das reconceituações sobre linguagem e seu ensino que vivemos nos últimos anos. Por um lado, as expectativas sociais em torno da ação docente tornaram-se muito mais exigentes: pensamos numa escola que queira “letrar” e não apenas alfabetizar pessoas jovens e adultas. Por outro lado, este letramento pressupõe não apenas desenvolver em sala de aula debates orais que permitam a expressão do educando, sua conscientização sobre processos sociais, etc. Numa perspectiva de letramento, a leitura do mundo passaria, necessariamente, pela ampliação do repertório de gêneros textuais escritos e práticas letradas que o aprendiz domina. Para isto, conseqüentemente, não bastaria ao professor de língua portuguesa da eja “dar a palavra” ao aluno.
REFLEXÕES
Artur Gomes de Morais
Dentro da instituição escolar, a colocação em prática dos princípios idealizados e prescritos por outras esferas é, porém, atribuída prioritariamente ao professor. Cabe então refletir sobre o que isto significa, hoje.
Cremos que precisamos estar bastante conscientes de que as mudanças no modo como passamos a conceber a linguagem e o trabalho pedagógico na área de língua impõem um alto nível de exigência para o profissional professor. De um rol de conteúdos isolados, aprendidos pela repetição e memorização o que passamos a exigir do professor é que ensine “práticas variadas de produção e compreensão de gêneros orais e escritos”, tal como se dão no espaço extra-escolar. E que aquele mestre promova situações de “análise e reflexão sobre a língua” no lugar das antigas lições de gramática. Ora, é evidente que a nova prescrição implica uma profunda complexificação da tarefa de ensino.
Isto se torna evidente pelas competências de usuário da linguagem que se passa a exigir do professor e que ele não pôde, muitas vezes, desenvolver. Diferentes pesquisas realizadas, aqui no Brasil, atestam que a maioria dos docentes do ensino fundamental consomem, em seu cotidiano, poucos livros e outros produtos culturais –cinema, teatro, etc. Ao mesmo tempo, em suas experiências familiares e escolares prévias, estes profissionais não tiveram oportunidade de apropriar-se do letramento sofisticado que se supõe implícito na expectativa de que agencie, na sala de aula, práticas variadas de leitura, produção textual e análise lingüística.
Das dificuldades de realizar-se um ensino eficaz dos aspectos textuais da língua e de
se inovar o ensino do sistema de escrita alfabética. A condição de leitor escolar/interditado, apontada na seção anterior, poderia explicar, ao menos em parte, o fato de que, mesmo atualmente - quando há toda uma literatura que fundamenta a prática de ensino da língua como um processo de interlocução-,
ainda pode ser observado em muitas escolas um ensino de língua fragmentado. Dessa
maneira, os professores teriam dificuldades em desempenhar de outra forma o papel de
formadores de alunos leitores e produtores de textos, que deveriam ver a leitura como um meio de aquisição de práticas letradas.
Quanto à formação continuada... a escassez com que se dá, permite-nos questionar se pode continuar sendo assim chamada (“continuada” ou “contínua”) e não alimentar maiores ilusões quanto a seus efeitos. Além de sabermos que raramente atinge uma dimensão de ampliação do universo cultural do professor, parece que pouco tem investido numa reflexão sobre procedimentos adequados de escolarização da linguagem pela escola. Analisando situações de formação continuada na área de língua, vividas por professores de 1ª a 4ª séries de uma rede pública de ensino de Pernambuco, observaram que os momentos de formação (bastante esporádicos!!!) não só não viabilizavam a discussão e reflexão sobre as práticas de ensino da língua na sala de aula como reforçavam concepções e encaminhamentos didáticos bastante tradicionais (que identificavam língua com gramática normativa, usavam textos como pretexto para ensino de classes gramaticais, etc.). Hipotetizamos que a situação não seria necessariamente diferente na EJA: Moura & Morais (2001), entrevistando 10 professoras de EJA de Pernambuco, observaram que elas se queixavam da ausência de oportunidades de formação continuada e do fato de, nos poucos “encontros de capacitação” vivenciados, não se investir na discussão, por exemplo, da forma como sistematizam em suas salas o ensino do sistema de escrita alfabética.
A transformação das práticas de ensino da língua portuguesa na eja merecem, a nosso ver, uma atenção maior por parte dos que fazem e discutem as políticas de formação/ atuação dos profissionais envolvidos nesse segmento de escolarização. Parecenos inegável a complexificação daquela tarefa docente, em função das reconceituações sobre linguagem e seu ensino que vivemos nos últimos anos. Por um lado, as expectativas sociais em torno da ação docente tornaram-se muito mais exigentes: pensamos numa escola que queira “letrar” e não apenas alfabetizar pessoas jovens e adultas. Por outro lado, este letramento pressupõe não apenas desenvolver em sala de aula debates orais que permitam a expressão do educando, sua conscientização sobre processos sociais, etc. Numa perspectiva de letramento, a leitura do mundo passaria, necessariamente, pela ampliação do repertório de gêneros textuais escritos e práticas letradas que o aprendiz domina. Para isto, conseqüentemente, não bastaria ao professor de língua portuguesa da eja “dar a palavra” ao aluno.
quinta-feira, 21 de janeiro de 2010
Alertas para o golpe
Alertas para o golpe
João Ubaldo Ribeiro
A vocação cívica aqui de Itaparica é sobejamente conhecida de todos, mas está sempre surpreendendo por sua intensidade. À primeira vista, o viajante nada perceberá, na névoa da madrugada que encobre delicadamente a Rua Direita ainda deserta, as pedras umedecidas do chuvisco que regou as plantas antes do amanhecer, o silêncio só quebrado pela algazarra da passarada. Talvez um jeguinho em seu passeio matinal antes de pegar no batente, talvez alguém indo assistir ao nascer do sol em cima do cais, tudo quieto e sossegado, como deve ser a venerável vila onde a história do Brasil começou.
Mas, da mesma forma que no passado, a aparência tranquila disfarça a ebulição estuante que nos pôs à frente de todos os grandes movimentos nacionais. Pois que murmúrio é esse, de vozes abafadas porém exaltadas, que o viajante ouve cada vez mais forte, à medida que se aproxima dos umbrais do Bar de Espanha? Alguma festa, que só terminou nesse instante? A numerosa família de Espanha arrumando o estabelecimento para mais um dia de intenso funcionamento? Talvez o rádio ligado nas notícias matinais?
Não, não, nada disso. Também da mesma forma que nas boticas e lojas de maçonaria dos tempos heroicos da Independência, a verdade é que essas vozes, agora muito altas, ao deter-se o viajante à porta do bar, são discursos e brados de conspiradores, gente versada em sedições e levantes, gente afeita ao combate e às lides revolucionárias, gente disposta a qualquer proeza ou sacrifício pelo bem da nação. E, em tom elevado e veemente, é inequívoco que a voz que mais se destaca é a de Zecamunista, inconfundível em sua eloquência vibrante e seu vigor nas denúncias que profere.
– Esse ministro Genro – diz ele, sublinhando as palavras com gestos de Castro Alves – está preparando um golpe, não podemos esmorecer na vigilância democrática! Deu nos jornais, qualquer um pode ler.
– Está escrito que vão dar um golpe?
– Não, claro que não, é tudo muito maquiavélico, a coisa é quase subliminar. Mas aí eu apelo para meus conhecimentos de enxadrista. Eles pensam que me pegam, mas eu já estou vários lances na frente.
– Mas o que foi que ele disse, afinal?
– Disse que d. Dilma é vítima de preconceito.
– Não entendi o que isso tem a ver com golpe.
– Primeiro passo! É o primeiro passo! Em seguida?
– Só você cantando esse jogo, Zeca, eu nem sei jogar xadrez direito.
– Eu canto, eu canto, embora estejamos num país de surdos e não adiante nada. O segundo passo está na cara: quem não gostar dela é preconceituoso.
– Bem, pode até ser.
– Lá vai você caindo na pegada do ministro, às vezes eu acho que aqui só tem otário. Terceiro passo: quem não gostar dela não só é politicamente incorreto como vai para a ilegalidade. Não pode ter preconceito no Brasil, discriminar ninguém por raça, aparência, sexo, nada. Então, quarto passo: quem disser que não gosta dela vai processado pelo Ministério Público.
– Zeca, você não está vendo que isso não pode acontecer?
– É, não pode mesmo. Vai ser pior, depois vem o quinto passo. Quinto passo: quem não votar nela vai em cana.
– Me desculpe, mas isso é delírio completo, isso não vai acontecer aqui, nem pode acontecer em nenhum lugar do mundo.
– Demonstrada mais uma vez a sua ignorância. A primeira condição para compreender o Brasil é levar sempre em conta que aqui acontecem coisas que não podem acontecer em lugar nenhum do mundo. Você viu os caras, lá em Brasília, passando bolos de dinheiro para lá e para cá? Viu o governador pegando dinheiro? Viu a deputada enfiando dinheiro na bolsa? Viu um cara metendo dinheiro na cueca e outro na meia?
– Vi, todo mundo viu.
– Negativo. Nem todo mundo viu, pelo menos do jeito que a gente viu. Tanto assim que até o presidente disse que aquelas cenas não davam para concluir nada. O que é que dava, então? Os caras parando no meio da enfiada de dinheiro no rabo para falar para a câmera? Atenção, Brasil, close na minha cueca, estou levando grana de propina e afanando o dinheiro dos trouxas! Que é que precisava mais, para mostrar que os caras estavam levando jabaculê, que eles saíssem no carnaval fantasiados de irmãos Metralha e carregando sacos de dinheiro?
– Você não deixa de ter alguma razão. Mas isso não vai ficar assim, vai dar processo.
– Vai, vai, sim. Quem de agora em diante mencionar essas propinas vai ser processado. Antes, já tomou porrada e pisada de cavalo, lá em Brasília mesmo e aí entrar em cana completa o tratamento.
– Você está muito pessimista, Zeca.
O Globo, 10/1/2010
João Ubaldo Ribeiro
A vocação cívica aqui de Itaparica é sobejamente conhecida de todos, mas está sempre surpreendendo por sua intensidade. À primeira vista, o viajante nada perceberá, na névoa da madrugada que encobre delicadamente a Rua Direita ainda deserta, as pedras umedecidas do chuvisco que regou as plantas antes do amanhecer, o silêncio só quebrado pela algazarra da passarada. Talvez um jeguinho em seu passeio matinal antes de pegar no batente, talvez alguém indo assistir ao nascer do sol em cima do cais, tudo quieto e sossegado, como deve ser a venerável vila onde a história do Brasil começou.
Mas, da mesma forma que no passado, a aparência tranquila disfarça a ebulição estuante que nos pôs à frente de todos os grandes movimentos nacionais. Pois que murmúrio é esse, de vozes abafadas porém exaltadas, que o viajante ouve cada vez mais forte, à medida que se aproxima dos umbrais do Bar de Espanha? Alguma festa, que só terminou nesse instante? A numerosa família de Espanha arrumando o estabelecimento para mais um dia de intenso funcionamento? Talvez o rádio ligado nas notícias matinais?
Não, não, nada disso. Também da mesma forma que nas boticas e lojas de maçonaria dos tempos heroicos da Independência, a verdade é que essas vozes, agora muito altas, ao deter-se o viajante à porta do bar, são discursos e brados de conspiradores, gente versada em sedições e levantes, gente afeita ao combate e às lides revolucionárias, gente disposta a qualquer proeza ou sacrifício pelo bem da nação. E, em tom elevado e veemente, é inequívoco que a voz que mais se destaca é a de Zecamunista, inconfundível em sua eloquência vibrante e seu vigor nas denúncias que profere.
– Esse ministro Genro – diz ele, sublinhando as palavras com gestos de Castro Alves – está preparando um golpe, não podemos esmorecer na vigilância democrática! Deu nos jornais, qualquer um pode ler.
– Está escrito que vão dar um golpe?
– Não, claro que não, é tudo muito maquiavélico, a coisa é quase subliminar. Mas aí eu apelo para meus conhecimentos de enxadrista. Eles pensam que me pegam, mas eu já estou vários lances na frente.
– Mas o que foi que ele disse, afinal?
– Disse que d. Dilma é vítima de preconceito.
– Não entendi o que isso tem a ver com golpe.
– Primeiro passo! É o primeiro passo! Em seguida?
– Só você cantando esse jogo, Zeca, eu nem sei jogar xadrez direito.
– Eu canto, eu canto, embora estejamos num país de surdos e não adiante nada. O segundo passo está na cara: quem não gostar dela é preconceituoso.
– Bem, pode até ser.
– Lá vai você caindo na pegada do ministro, às vezes eu acho que aqui só tem otário. Terceiro passo: quem não gostar dela não só é politicamente incorreto como vai para a ilegalidade. Não pode ter preconceito no Brasil, discriminar ninguém por raça, aparência, sexo, nada. Então, quarto passo: quem disser que não gosta dela vai processado pelo Ministério Público.
– Zeca, você não está vendo que isso não pode acontecer?
– É, não pode mesmo. Vai ser pior, depois vem o quinto passo. Quinto passo: quem não votar nela vai em cana.
– Me desculpe, mas isso é delírio completo, isso não vai acontecer aqui, nem pode acontecer em nenhum lugar do mundo.
– Demonstrada mais uma vez a sua ignorância. A primeira condição para compreender o Brasil é levar sempre em conta que aqui acontecem coisas que não podem acontecer em lugar nenhum do mundo. Você viu os caras, lá em Brasília, passando bolos de dinheiro para lá e para cá? Viu o governador pegando dinheiro? Viu a deputada enfiando dinheiro na bolsa? Viu um cara metendo dinheiro na cueca e outro na meia?
– Vi, todo mundo viu.
– Negativo. Nem todo mundo viu, pelo menos do jeito que a gente viu. Tanto assim que até o presidente disse que aquelas cenas não davam para concluir nada. O que é que dava, então? Os caras parando no meio da enfiada de dinheiro no rabo para falar para a câmera? Atenção, Brasil, close na minha cueca, estou levando grana de propina e afanando o dinheiro dos trouxas! Que é que precisava mais, para mostrar que os caras estavam levando jabaculê, que eles saíssem no carnaval fantasiados de irmãos Metralha e carregando sacos de dinheiro?
– Você não deixa de ter alguma razão. Mas isso não vai ficar assim, vai dar processo.
– Vai, vai, sim. Quem de agora em diante mencionar essas propinas vai ser processado. Antes, já tomou porrada e pisada de cavalo, lá em Brasília mesmo e aí entrar em cana completa o tratamento.
– Você está muito pessimista, Zeca.
O Globo, 10/1/2010
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